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mercoledì 12 luglio 2017

É famosa entre linguistas, de inspiração Chosmkyana principalmente, nomeadamente Steven Pinker, a ideia de que a língua se desenvolveu evolutivamente a partir de outras funções já desempenhadas pelo cérebro humano.

Parece-me uma teoria bastante pertinente e, a um certo ponto, pode-se demonstrar que certas áreas do cérebro de fato estão relacionadas a certos aspectos da linguagem.

Por exemplo, diz Pinker, as ideias expressas pelas preposições teriam sua origem, com vista semelhança abstrata, em áreas do cérebro responsáveis em processar o movimento e a localização.

Surpreende-me muito (ou não) que linguistas que sustentam essas proposições dêem um salto lógico tão grande a ponto de chegar à conclusão de que o certo e errado da língua são muito relativos, ou inexistentes, que usem esses argumentos para condenar quem defende um cultivo específico da língua e não o laissez-faire linguístico quase total.

Ainda a separação de cada língua específica como ente abstrato dependente porém diferente das suas estruturas subjacentes não se explica por esses argumentos evolucionistas. Em que momento exatamente foram atribuídas significantes aos significados? Em algum momento isso foi feito, e feito usando o intelecto, o pensamento abstrato ativo e não simplesmente uma estrutura cerebral subjacente, caso contrário a situação em que um ser humano não sabe uma palavra em sua própria língua nativa, ou no caso em que a língua ainda não possua uma palavra ou meio de expressão para algo seriam situações inexistentes.

Ainda nesse caminho, tenta-se desprovar a influência do uso consciente e cuidadoso da língua em sua evolução. É como se ignorando-se totalmente uma arte ou uma técnica se produzissem ferramentas e resultados tão bons quanto ao cultivá-las com empenho, cuidado e dedicação contínuos.

O que me motivou a escrever isso, porém, foi o funcionamento radicalmente diferente que notei entre pessoas habituadas a falar várias línguas e estudar a gramática, especialmente sua percepção dos morfemas. Estas encontram facilmente o radical de uma palavra e são capazes de gerar neologismos ou de reconhecer palavras que dele derivam. Já a maioria dos brasileiros, acostumados a um uso instrumental da língua beirando a incapacidade de comunicação, não consegue conceber categorias abstratas como os morfemas. A consequência disso é que não conseguem identificar radicais e seus derivados. Ao invés disso, guiam-se somente pela afinidade sonora ou grafêmica entre as palavras. Às vezes com resultados cômicos, não conseguem absolutamente diferenciar de forma analítica dois parônimos e são incapazes de separar os morfemas que compõem uma palavra, assim como são incapazes de entender diferenças e semelhanças abstratas entre um morfema e outro, tendo sempre que recorrer ao significado, sem conseguir manusear mentalmente o significante.

Este tipo de pensamento, creio que é o natural ao ser humano, deriva das suas capacidades biológicas. É com essa lógica que surgem as línguas. Sabe-se que a interpretação de sons e letras funciona para a língua da mesma forma que para funcionalidades não relacionadas. Por exemplo, um ser humano é capaz de identificar a origem de um som vindo de, por exemplo, um animal qualquer, como sendo dele mesmo, ainda que mude a frequência, o tom, o timbre, etc. Assim, também é capaz de identificar palavras proferidas por pessoas com vozes radicalmente diferentes, e mesmo de entender palavras com sons trocados por fonemas de qualidades diferentes. Também se sabe que o ser humano reconhece as letras da mesma forma que reconhece rostos humanos. Portanto, da mesma forma que consegue reconhecer um amigo ou familiar com alterações no semblante, também consegue ler letras em fontes diferentes.

Quando uma língua surge, é impossível que o faça através de um processo racional, pois não existe raciocínio linguístico sem o uso da própria língua.

Portanto, o surgimento dos primeiros significantes, assim como da gramática, baseia-se nos sentidos mesmos, nas semelhanças sonoras (daí as descobertas recentes da sinestesia inrínseca nos sons das palavras, que contrariam em parte a ideia Saussuriana de significante arbitrário e joga no lixo o valor da maioria das línguas artificiais), e nas analogias mentais.

É sabido que línguas mais "primitivas" têm uma gramática extremamente complicada (ao contrário do que diz o senso comum). Isso se passa porque a própria análise gramatical é fundamentada em uma lógica extremamente diferente da usada nessas línguas.

Uma língua, imagino portanto, desenvolve-se primeiro fundamentando-se em um instinto humano para a linguagem. Tal língua serve para todas as necessidades humanas básicas, como avisar sobre predadores, caçar, lutar, disputas verbais básicas, etc. o que, porém, não deve ser confundido com os grunhidos de animais que são puramente pragmáticos. Essa língua já é uma língua normal, completamente desenvolvida do ponto de vista linguístico, mas não do ponto de vista humano, da capacidade de expressar ideias objetivas sobre a própria língua.

A partir do momento em que existem já os significantes e funcionalidades para as situações mais pragmáticas, pode-se começar a usá-los para funções abstratas e é aí que a língua vai criando a capacidade de "falar sobre si mesma"e desenvolver-se. Um indivíduo já em posse dessa língua é capaz de encontrar nela analogias estruturais e abstratas. Já pode modificá-la de forma consciente para que consiga expressar-se melhor. Já pode condenar determinado uso da língua, pois o julga ineficiente e confuso. Enfim, pode já cultivar a língua.

A partir daí já não estamos falando mais de uma mera consequência biológica. Mas de uma criação abstrata de um invidívuo ou de um grupo de indivíduos, que depende de sua vontade, não de um mero acidente, pode jamais acontecer ou acontecer de formas totalmente divergentes. Enfim, é parte da cultura, da razão, não da biologia.

Não é causada, portanto, pela biologia. Esta é o seu fundamento, não sua causa. Mas parece cada vez mais comum a confusão entre os conceitos, cada vez mais comum nas ciências. E não haveria de ser diferente na linguística.



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